O Homem Incandescente 4: Forjado no Deserto

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Depois de falar sobre a questão dos discípulos de João e a autenticidade de Seu ministério como o Messias, Jesus se virou para as multidões e falou sobre a autenticidade do ministério de João como profeta. Ele começa Sua mensagem com uma pergunta: “Enquanto saíam os discípulos de João, Jesus começou a falar à multidão a respeito de João: ‘O que vocês foram ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento?’” (Mateus 11.7).

 

o fato de João ter ministrado no deserto não pode ser desprezado. Nem suas implicações devem escapar de nossa consideração da vida e do ministério de João e daqueles que são chamados ao ministério do precursor em nossa geração. O deserto era o contexto e a realidade de João. É um contexto e uma realidade para os quais também somos chamados.

ONDE OS PROFETAS SÃO FORJADOS E AS NAÇÕES SÃO CONFRONTADAS

O ermo foi a fornalha em que João foi forjado. E era o contexto em que Deus preparou Israel para a geração transicional que estava por vir.

Como Abraão, Moisés, Josué, Davi e Elias que foram todos criados como líderes no ermo, O Senhor chamou João para “se esconder” (I Reis 17.3) no deserto, como um amigo íntimo, com a intenção de que um dia ele fosse chamado para “apresentar-se” (I Reis 18.1) às nações como um profeta incandescente.

A mensagem do ermo é um elemento integrante do ministério do precursor. Era indispensável na preparação de João. E será indispensável para preparar muitos, assim como João, no final dos tempos.

Antes de considerarmos a significância do deserto na formação de João, é importante enfatizar o fato de que o ermo tem mais a ver com convicções e estilo de vida, do que com localização ou com uma vocação. Não há nada sobre o deserto que seja inerente ou intrinsecamente significante ou transformador. O deserto não passa de pó e ar. O que faz do deserto uma parte crucial na história de João (e de muitos outros antes dele) é a visão e os valores que o levaram até lá. Moisés e Josué certamente podem nos lembrar que nem toda experiência no ermo nos transforma, agrada ao Senhor ou intimida o Maligno. Todavia, todos os profetas (inclusive Moisés e Josué) podem nos fazer lembrar que nenhum dos vasos do Senhor evitou viver essa experiência.

O conceito de ermo é entrelaçado com a vida e o ministério de João em todo o registro Bíblico. Está no cerne da história. Em Lucas 1.80, encontramos uma afirmação curta, porém poderosa sobre a natureza da preparação de João com respeito ao deserto. “Ora, o menino crescia, e se robustecia em espírito; e habitava nos desertos até o dia da sua manifestação a Israel.” Lucas 1.80

Esse versículo nos fala sobre como ele cresceu, onde ele cresceu, e no que ele se tornou. Ali, na vastidão do deserto árido do Oriente Médio, um jovem homem “crescia, e se robustecia em espírito”. Ele cresceu na revelação de Deus. Ele examinou profundamente a Palavra de Deus. Aquela Palavra prevaleceu sobre ele. Ele abraçou a graça do jejum e da oração. O poder foi aperfeiçoado em sua fraqueza. Ao passo que ele crescia em estatura física, deixou de ser um menino para se tornar um homem que cresceu em autoridade espiritual como um líder, um pregador e um profeta. Seu espírito tornou-se forte. Suas convicções foram seladas. Sua mensagem foi amadurecida. E seu mandato tornou-se mais claro a cada ano que passava. Quando lemos o Evangelho, lemos relatos sobre o nascimento de João e aí não ouvimos mais falar nele até que ele emerge décadas depois, como um adulto, no auge de sua vida.

Um ponto que merece ser enfatizado é o fato de que João permaneceu um ermitão por todos os seus dias. Desde sua juventude “até o dia em que apareceu publicamente”, João ficou sozinho “no ermo”. Até mesmo quando seu ministério teve início, a nação “saiu para” vê-lo. A única razão pela qual ele deixou o deserto foi por que foi encarcerado e executado. Ele estava, por um lado, exilado de sua auto-imposição de exílio quando foi arrastado para dentro da cidade para sofrer seu derradeiro destino.

O entendimento que João tinha de quem ele era e de quê ele foi chamado para fazer estava firmado numa profecia que está em Isaías 40. Quando a liderança religiosa daquele tempo perguntou quem ele era e o que ele fazia, João apontou para eles esse capítulo chave e falou como se visse a si mesmo no texto. Por exemplo, em João capitulo 1 lemos:

E este foi o testemunho de João, quando os judeus lhe enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para que lhe perguntassem: ‘Quem és tu?’ Ele, pois, confessou e não negou; sim, confessou: ‘Eu não sou o Cristo.’ Ao que lhe perguntaram: ‘Pois que? És tu Elias?’ Respondeu ele: ‘Não sou.’ ‘És tu o profeta?’ E respondeu: ‘Não.’ Disseram-lhe, pois: ‘Quem és? para podermos dar resposta aos que nos enviaram; que dizes de ti mesmo?’ Respondeu ele: ‘Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías.’” João 1.19-23

A “voz” emergiu “no deserto”. Não em Jerusalém. Não nas escolas rabínicas. Não nas sinagogas. O som de trovão do profeta ecoava no ermo. O deserto era o lar do precursor. Era o ventre através do qual o líder podia nascer. É o caldeirão em que ele foi forjado. Foi o canteiro em que o mensageiro profético teve suas raízes deixou crescer suas raízes. E é nesse contexto em que Deus determina o confronto a povos e nações.

A MODERNIDADE E O CHAMADO PARA O ERMO

Enquanto o lugar ermo em que João amadureceu fosse um deserto literal (assim como foi com Moisés e Davi), muitos precursores em toda a história foram preparados no lugar ermos, de maneira figurada, nas cortes de tiranos Gentios (Daniel), na presença de dignitários Judeus (Isaías), no meio da sociedade (Jeremias), na Casa do Senhor (Samuel), na Tenda da Congregação (Josué), no Tabernáculo de Davi (filhos de Corá) e nas comunidades proféticas (Eliseu).

Relativamente falando, esses homens experimentaram o mesmo tipo de ministério que João, e viveram o mesmo estilo de vida de João. Mas o contexto em que eles foram preparados como mensageiros foi muito diferente do de João. A “estufa” proverbial em que “cresceram e se robusteciam em espírito” variava de homem para homem, de geração para geração. Da mesma forma acontece nos nossos dias.

Em nossa geração o Senhor está, mais uma vez, separando precursores para viverem no estilo de vida do lugar ermo. Como Jesus em Lucas 4, eles sentem que são “guiado pelo Espírito para o deserto”. Eles se sentem deslocados em muitos lugares, se não for exagero dizer que isso acontece na maioria dos lugares. Não porque eles são anti-sociais (embora alguns possam ser), mas porque eles acham impossível reconciliar o que vêem a sua volta com o peso do Senhor em relação ao futuro. Eles se afligem pela revelação da crise iminente. Eles sentem a dor de estarem conscientes da fraqueza de suas palavras, usadas para trazer à tona a responsabilidade para que os outros percebam a urgência que tem essa hora. O estilo de vida do lugar ermo (jejum, oração, estudo, comunidades, meditação, contemplação, pureza, humildade, ousadia, autenticidade) é o único lugar em que esses indivíduos se sentem em casa.

Embora uma pequena minoria seja chamada para levar o testemunho do retorno de Jesus e também seja chamada para um retiro completo e deliberado da sociedade num local deserto pelo bem da sua preparação, a maioria terá de se preparar e ministrar em comunidades urbanas em meio à população das cidades, nas nações da terra. A afirmação “João estava no deserto” ressoará em seus corações assim com ressoa em mim, não por que nos sentimos chamados para o deserto literal em que João viveu, mas porque nos sentimos chamados ao estilo de vida a que João foi convidado por causa das convicções orientadoras, das visões e dos valores; uma vida de consagração e preparação deliberada à luz do que discernimos no horizonte.

TRÊS MANEIRAS PELAS QUAIS O LUGAR ERMO FOMENTAR OS PRECURSORES

O contexto do lugar ermo está para o profeta e o ministério profético assim como o odre está para o vinho; assim como a fornalha está para o metal; como uma estufa está para plantas. Ele facilita e promove a maturidade. Ele acelera o desenvolvimento. Ele dá condições para o processo de formação.

Há três maneiras que o lugar ermo servir àqueles que são chamados para o ministério do precursor.

 

Primeiro, o lugar ermo forja o homem. É lá, na simplicidade da proximidade com o Senhor que o mensageiro efetivamente nasce, recebe nutrido e comissionado. Desde a infância, Samuel foi dedicado à Casa do Senhor. Davi “fixou seu coração” em Deus nas cavernas de Adulão e no palácio, em Jerusalém. Josué “jamais se apartou da Tenda da Congregação”. Daniel orou três vezes ao dia nas mansões da Babilônia. Elias morou perto do rio até que foi chamado para “mostrar-se”. Paulo, o apóstolo, buscou a face de Deus por mais de uma década, na Arábia. Todos esses homens, assim como João Batista, consagraram a si mesmos à santidade de coração, à limpeza de mãos, à pureza na fala, à simplicidade de devoção a Deus e à ousadia na proclamação da Sua Palavra para sua geração. Até mesmo o próprio Jesus abraçou a sabedoria do lugar ermo. Após ser batizado por João, em Lucas 3, Ele orou e jejuou pro quarenta dias e foi tentado pelo Diabo. Então, na plenitude do tempo, Jesus “retornou” para a Galileia para começar Seu ministério “no poder do Espírito” (Lucas 4.14). A consagração do profeta no lugar ermo trouxe o confronto até as pessoas que estavam na cidade.

Segundo, o lugar ermo forja o ministério. O mandato do deserto que João abraçou tinha tudo a ver com o clima espiritual árido e falido de Jerusalém. Não era favorável para o ministério do Espírito (como lemos, por exemplo, em Mateus 11.20-24). E eles não eram receptivos à Palavra do Senhor. Para que a nação pudesse ser preparada para a transição que viria até eles, Deus buscou apresentar uma alternativa ao que as pessoas conheciam naquela cultura anêmica de sinagoga daquele tempo. A alternativa era João. Mas isso exigiu de João que ele se preparasse fora do sistema ao qual ele deveria influenciar. Se João tivesse crescido em Jerusalém e fosse engajado com a cultura de ministério daquele tempo, ele não teria a capacidade de desafiar a cidade como fez no Jordão. Um pregador é impotente quando desafia uma cultura à qual ele próprio está secretamente comprometido e pela qual é influenciado. A cultura de sinagoga em Israel naqueles dias de João Batista não poderia conter João. E não poderia servir o mover de Deus que foi liberado quando Jesus saiu do lugar ermo “cheio do poder do Espírito”. O lugar ermo fomentou uma expressão alternativa de ministério que deu luz ao precursor e preparou uma nação para a primeira vinda.

Terceiro, o lugar ermo forjou a mensagem. Os precursores são muito específicos em sua mensagem e em seu respectivo mandato ministerial. Eles honram a diversidade do Corpo. E respeitam profundamente as várias mensagens, métodos e ministérios que emergem entre o povo de Deus. Porém, eles mesmos não abraçam essas mensagens, métodos e mandatos. Não porque eles não sejam válidos, verdadeiros ou frutíferos, mas porque eles não cabem aos precursores. O silêncio relativo do estilo de vida do lugar ermo preserva o mensageiro de abrir a si mesmo para influências de muitas vozes (legítimas e ilegítimas) que não compreendem, concordam ou endossam o ministério da preparação profética. Seria divino, benéfico e frutífero para João seguir nos passos de seu pai e tornar-se um sacerdote, servir no Templo e ministrar em uma sinagoga. E sua presença em Jerusalém teria trazido o fruto redentivo para as vidas de muitos. Mas com seu retiro da cultura espiritual do seu tempo, João foi protegido da escola de pensamento da época. Ao retirar-se da amplitude e do equilíbrio da espiritualidade do tempo, ele foi capaz de aprofundar em temas e realidades que literalmente fizeram dele o que ele era, e forjaram as palavras que ele disse. Precursores não são equilibrados. Não é o que eles são chamados para serem. Quando Deus deseja interromper a trajetória de um povo ou uma nação ao prender sua atenção, Ele não levanta um homem equilibrado que sabe qualificar suas convicções. Ele levanta um tição no lugar ermo com uma mensagem que é simples, repetitiva e específica. Somente uma mensagem desequilibrada pode trazer uma reforma ampla. E som ente um mensageiro desequilibrado pode fomentar uma revolução generalizada. Essa não é uma licença para que verdades sejam inapropriadamente enfatizadas e que outras verdades sejam negligenciadas. É simplesmente a afirmação de que a amplitude e o equilíbrio jamais nunca foram nem nunca serão a descrição de um profeta ou de sua mensagem.

ABRAÇANDO O CHAMADO PARA IR AO LUGAR ERMO NOS ÚLTIMOS DIAS

Da mesma forma que João abraçou o chamado que recebeu de ir para o deserto quando jovem antes da primeira vinda de Cristo, assim também muitos outros abraçarão o mesmo chamado antes do retorno de Jesus. Isso trará uma maior expressão do ministério do precursor na história humana, sobrepondo até mesmo como ministério de João. Nos dias que virão a mensagem, o mandato e o estilo de vida de João serão manifestados entre o povo de Deus nas nações, enquanto nos aproximamos do Dia de Cristo. Portanto, veremos muitos atraídos pela beleza do deserto, como João. Sem esse contexto, a mensagem não amadurecerá, o mandato não será executado e o estilo de vida será abandonado. Esse tipo de contexto é o fruto de um estilo de vida de convicções particulares; convicção será o tema dos próximos artigos.

Continua
Texto original de Dalton Thomas

Traduzido por Christie Vieira Zon

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